quarta-feira, 20 de junho de 2012

Duas Histórias no mesmo episódio, quem tem razão?

Aula de dignidade

Resumindo o gesto de Luiza Erundina: uma aula de dignidade. É daqueles gestos que têm um efeito pedagógico contra o pragmatismo rasteiro.
Erundina disse o que deveria ser dito: nem tudo vale a pena para chegar ao poder. Haddad acena com a campanha do novo, mas seu partido usa a velha política do clientelismo para comprar 90 segundos de horário eleitoral.
No pragmatismo rasteiro, muita gente que se incomodou com a ética da aliança Haddad/Maluf, achava aceitável, elogiável até, a aliança Serra/Maluf.
Não é possível que se ache normal uma aliança com alguém procurado mundialmente pela Interpol. Tanto PSDB e PT nasceram com a bandeira da ética, criticando ações simbolizadas em personagens como Maluf.
Alguém precisava chutar esse balde da hipocrisia. Erundina sai da corrida, mas, nessa eleição, ela já venceu.

Lula: jogando contra seu time?

O ex-presidente Lula está brincando com a sorte. Para quem se meteu em mais uma daquelas missões que parecem impossíveis, o petista está se expondo em demasia, fazendo jogadas que, por enquanto, estão desvalorizando seu patrimônio. Diríamos que ele parece ter decidido jogar contra seu próprio time, para usar uma metáfora futebolística, tão ao gosto do ex-presidente.
Decidido a fazer de seu ex-ministro da Educação Fernando Haddad prefeito de São Paulo, Lula vai colecionando, nos últimos tempos, manobras no mínimo discutíveis, que mais desgastam sua imagem do que lhe trazem benefícios.
Foi assim na sua investida para tentar melar o julgamento do mensalão pelo STF (Supremo Tribunal Federal). Primeiro, patrocinando e quase impondo a criação da CPI do Cachoeira. Comissão que, na sua avaliação, poderia ofuscar o julgamento do mensalão e acuar seus adversários. Só que ela acabou virando palco de guerra entre petistas e pode atrapalhar as obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Uma decisão que vai se revelando um autêntico tiro no pé.
Depois, veio a público sua tentativa de convencer o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes de que seria melhor deixar o julgamento para depois da eleição municipal. Em troca, teria garantido apoio ao juiz caso seu nome surgisse nas investigações da CPI do Cachoeira. Resultado: o ex-presidente ficou acuado diante das acusações de Gilmar Mendes. Saiu chamuscado do episódio.
Agora, nova jogada de elevado risco, quando decidiu posar ao lado de Paulo Maluf (PP-SP) na hora de selar o apoio do ex-prefeito para seu pupilo Fernando Haddad. Uma união que vai render tempo na TV, mas causa arrepios no eleitorado petista e deve levar alguns indecisos a decidir não votar no ex-ministro da Educação. No curto prazo, uma operação que gera mais desgaste do que vantagens, tanto que levou Luiza Erundina (PSB-SP) a desistir de ser vice na chapa petista que vai disputar a Prefeitura de São Paulo.
Talvez a recente queda na sua capacidade de transferir votos, registrada na última pesquisa Datafolha, já seja reflexo das confusões que ele andou criando por aí, passando a mensagem de que tudo pode. O que não agrada nem um pouco uma fatia do eleitorado. Segundo o levantamento feito na semana passada, 39% dos eleitores da cidade de São Paulo dizem que o apoio de Lula poderia influenciar positivamente seu voto. Índice que é dez pontos percentuais menor do que o verificado em janeiro. Uma bela queda.
O ex-presidente segue, porém, sendo um eleitor de peso, à frente do governador tucano Geraldo Alckmin (29%) e da presidente petista Dilma Rousseff (28%). Mas, posso até estar enganado, se continuar nesta toada, Lula corre sério risco de seguir dilapidando o próprio patrimônio, o que terá efeitos negativos na tentativa de eleger Fernando Haddad prefeito de São Paulo.
Tudo isso, porém, é um retrato do momento. Haddad tem tudo para seguir crescendo, chegar aos 30% de intenção de voto e passar para o segundo turno. Aí, o tempo na TV será fundamental, algo que Lula está conseguindo ao engolir, com cara de felicidade, o apoio de Paulo Maluf, aquele que já foi odiado pelos petistas. Já foi, não, ainda é. Mas o pragmatismo dos petistas anda falando mais alto do que suas convicções.
Enfim, ao final da eleição poderemos checar se Lula será celebrado como grande gênio da política ou sairá da eleição com a fama de estar perdendo seu faro afiado. A conferir.


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